Pô meus, assim não dá!!!
Os caras simplesmente me levaram para uma regata pauleira sem me conhecer direito. Bem feito, pensam que é assim? Embarca, sobe qualquer pano e quer ganhar? Até parece que não sabem que precisam conhecer tudo sobre mim antes de me colocar num nordestão de 30 nós. Tá certo, posso estar sendo um tanto duro com eles, mas, porra meu, nem saber por onde passam e como funcionam as drenagens é demais. Colocar um espalha cabo lá em cima e não prestar atenção na hora de adriçar os cabos é coisa de amador. Não adianta, encharco a cabine, enrolo e pronto. Quer mais? Acreditam que deixaram acabar a gasolina do meu motor? Cara, meu tanque recebe 25 litros e eu saí para Bombinhas com pouco mais de cinco. É muita burrice...
e os barquinhos vão...
Pouco antes da largada o Fabrício assumiu o leme e o Tarcísio foi para a regulagem das velas. Mas não adiantava, eu não andava. Largamos bem, acho que entre os primeiros só que logo Moana, um Gaivota 24, me ultrapassou. Lá pelas tantas, o Oulala, um baita Delta 36 ao me ultrapassar por barlavento rouba o vento das minhas velas, eu fico em pé e encostamos os mastros. Menos de cinco minutos depois, quando somente o Volúpia era visto pela proa, rebenta o gato do estai de popa. “Soltem todas as velas”, gritou o Tarcísio para aliviar a pressão do mastro. Depois de tomar pé da situação e ver não havia perigo dele cair, alcançou o estai que balançava de um lado para o outro e o prendeu com uma manilha. “Cacem as velas e vamos navegar”, gritou a contra-ordem.
Navegar... pois sim. Mas não com aquele paninho. Depois de uns poucos segundos de indecisão, para tudo de novo para trocar a genoa. Finalmente eu tinha pano para andar. Em pouco tempo o Moana foi deixado para traz e eu começava a me aproximar da Flotilha. Tudo foi bem até perto de Zimbros. Andando sempre perto dos cinco nós, o vento apertando, o Fabrício entrega o leme para o Tarcísio que resolve soltar um pouco a mestra. Incrível, passei a andar quase um nó mais rápido sem perder a orça.
Na frente um barco que não identifiquei (nem eles). Ao lado, o Hot Day, um baita Fast 395 e eu ali, tentando me aproximar de um e não me afastar do outro. Cambaram para boreste, as ondas ficaram de frente e todo mundo se molhou. Que merda. O Tarcísio desceu e viu que eu estava cheio de água abaixo dos paineiros. Nesta primeira vez, pelo menos cinco baldes de água salgada foram despejados pelo meu costado. Minutos depois, mais um tanto. Foi quando ele viu que a minha geladeira também estava cheia. Esta coisa de tirar a água e eu encher de novo aconteceu pelo menos mais umas duas vezes, até ele descobris que bastava colocar a tampa do ralo da geladeira que a água não entrava mais. É que quando enche o poço do ferro, lá na frente, a água escorre por uma tubulação que se encontra com o escoamento da geladeira, antes de ser lançada pelo ralo do costado. Como o registro estava fechado – o que está certo – a água que vinha da proa entrava pela geladeira que não estava fechada. Mas até descobrir como estas coisas funcionam, fui esgotado com esponja e balde.
Sei que estão pensando em fazer um furo na roda de proa para escoar direto do poço da âncora, mas acho melhor estudarem bem antes de tomarem uma decisão drástica destas de fazer mais um buraco no meu casco. To cansado de tanto furo. Entre uns baldes e outros, chegamos no Amendoim. Massa! Ventão na cara, coisa de pelo menos 25 nós, espaço curto para manobra e a tripulação sendo exigida ao máximo. Eu fiz a minha parte respondendo a cada cambada. O João caçando a genoa, o Tarcísio soltando, o Rogério embarcado a saia da vela, o Fabrício dando o rumo. Foram cinco cambadas até deixar a Ilha e entrar na baía de Mariscal. Mas como o Tarcísio mandou parar o barco numa das vezes que verificou que eu estava cheio d’água, ainda antes da Ilha, agora, aqui no meio da baía, já não havia mais nenhum barco para alcançar. O mais próximo estava muito longe.
Dali até a chegada, mais nenhum susto. Ponta de Bombas no final da Baía de Mariscal, um bordo até a bóia no meio da praia, uma empopada até a CR. Mas ainda tem a volta com mais um monte de casos.
1 Comments:
Bem legal o texto!
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