quarta-feira, agosto 09, 2006

Pô meus, assim não dá!!!


Os caras simplesmente me levaram para uma regata pauleira sem me conhecer direito. Bem feito, pensam que é assim? Embarca, sobe qualquer pano e quer ganhar? Até parece que não sabem que precisam conhecer tudo sobre mim antes de me colocar num nordestão de 30 nós. Tá certo, posso estar sendo um tanto duro com eles, mas, porra meu, nem saber por onde passam e como funcionam as drenagens é demais. Colocar um espalha cabo lá em cima e não prestar atenção na hora de adriçar os cabos é coisa de amador. Não adianta, encharco a cabine, enrolo e pronto. Quer mais? Acreditam que deixaram acabar a gasolina do meu motor? Cara, meu tanque recebe 25 litros e eu saí para Bombinhas com pouco mais de cinco. É muita burrice...
O rolo já começou na sexta feira, quando me levaram para Jurerê. Saimos do centro às 4 da tarde, subiram a grande mas, entre as pontes, decidiram ligar o motor pois naquele ritmo e em contra vento, só Deus sabia a que horas chegaríamos no Clube. Tudo foi bem até passar um pouco da Ponta da Daniela, mas aí meu motor morreu, acho que tinha pouca gasolina no tanque e o pescador não puxou o líquido. Subiram a grande e fizemos uma navegada legal até a poita. Não fosse a falta de planejamento, eu até que gostei. Sempre prefiro velejar a usar o motor.
No sábado veio a tripulação completa, incluindo dois tripulantes que eu não conhecia. O João Moço e o Rogério Ristow. O João, pelo que entendi, já correu regatas junto com o Tarcísio no barco que ele tinha antes, o Calufa, e no Capitão Gaudino, que já vi ali no trapiche, mas ainda não fui apresentado ao seu dono. O quinto elemento, o Rogério, também pelo que entendi, nunca velejou com os outros, mas rapidinho já dominava as funções. O cara tem carteira de capitão. Merece respeito!
No embarque aquela coisa de sempre: deste lado as adriças das genoas, mais isto e aquilo. Deste lado, a do balão, etc, etc.. Já ventava forte. Colocaram 5 litros no tanque, subiram a grande, me soltaram da poita e saí, lépido, deslizando com o vento enchendo a vela por boreste. Cara, como eu estava feliz. Pensei: é hoje. O Tarcísio no leme desviando das amarras e dos outros barcos, eu respondendo a cada toque na cana do leme. Os demais tripulantes acertando um cabo, guardando os mantimentos, e eu cortando as ondas em direção a linha de largada, onde contei mais 24 veleiros.
Que vergonha. Se corresse sangue entre as mantas de fibra do meu casco, tenho certeza que ficaria vermelho. Não é que decidiram subir aquela genoazinha que usei para não molhar as moças que trabalham com o Tarcísio? E eu ali no meio dos outros barcos com um paninho enquanto todos os outros ostentavam suas melhores velas. Burros, bem feito. Quem manda chegar tarde na raia. Sim, eu sei, ainda estamos nos conhecendo, mas não precisa abusar. Ainda bem que não tem foto. Se tivessem chegado só um pouco mais cedo na raia, logo veriam que eu precisava de mais pano, mesmo com o vento forte que já soprava por ali.

e os barquinhos vão...

Pouco antes da largada o Fabrício assumiu o leme e o Tarcísio foi para a regulagem das velas. Mas não adiantava, eu não andava. Largamos bem, acho que entre os primeiros só que logo Moana, um Gaivota 24, me ultrapassou. Lá pelas tantas, o Oulala, um baita Delta 36 ao me ultrapassar por barlavento rouba o vento das minhas velas, eu fico em pé e encostamos os mastros. Menos de cinco minutos depois, quando somente o Volúpia era visto pela proa, rebenta o gato do estai de popa. “Soltem todas as velas”, gritou o Tarcísio para aliviar a pressão do mastro. Depois de tomar pé da situação e ver não havia perigo dele cair, alcançou o estai que balançava de um lado para o outro e o prendeu com uma manilha. “Cacem as velas e vamos navegar”, gritou a contra-ordem.

Navegar... pois sim. Mas não com aquele paninho. Depois de uns poucos segundos de indecisão, para tudo de novo para trocar a genoa. Finalmente eu tinha pano para andar. Em pouco tempo o Moana foi deixado para traz e eu começava a me aproximar da Flotilha. Tudo foi bem até perto de Zimbros. Andando sempre perto dos cinco nós, o vento apertando, o Fabrício entrega o leme para o Tarcísio que resolve soltar um pouco a mestra. Incrível, passei a andar quase um nó mais rápido sem perder a orça.

Na frente um barco que não identifiquei (nem eles). Ao lado, o Hot Day, um baita Fast 395 e eu ali, tentando me aproximar de um e não me afastar do outro. Cambaram para boreste, as ondas ficaram de frente e todo mundo se molhou. Que merda. O Tarcísio desceu e viu que eu estava cheio de água abaixo dos paineiros. Nesta primeira vez, pelo menos cinco baldes de água salgada foram despejados pelo meu costado. Minutos depois, mais um tanto. Foi quando ele viu que a minha geladeira também estava cheia. Esta coisa de tirar a água e eu encher de novo aconteceu pelo menos mais umas duas vezes, até ele descobris que bastava colocar a tampa do ralo da geladeira que a água não entrava mais. É que quando enche o poço do ferro, lá na frente, a água escorre por uma tubulação que se encontra com o escoamento da geladeira, antes de ser lançada pelo ralo do costado. Como o registro estava fechado – o que está certo – a água que vinha da proa entrava pela geladeira que não estava fechada. Mas até descobrir como estas coisas funcionam, fui esgotado com esponja e balde.

Sei que estão pensando em fazer um furo na roda de proa para escoar direto do poço da âncora, mas acho melhor estudarem bem antes de tomarem uma decisão drástica destas de fazer mais um buraco no meu casco. To cansado de tanto furo. Entre uns baldes e outros, chegamos no Amendoim. Massa! Ventão na cara, coisa de pelo menos 25 nós, espaço curto para manobra e a tripulação sendo exigida ao máximo. Eu fiz a minha parte respondendo a cada cambada. O João caçando a genoa, o Tarcísio soltando, o Rogério embarcado a saia da vela, o Fabrício dando o rumo. Foram cinco cambadas até deixar a Ilha e entrar na baía de Mariscal. Mas como o Tarcísio mandou parar o barco numa das vezes que verificou que eu estava cheio d’água, ainda antes da Ilha, agora, aqui no meio da baía, já não havia mais nenhum barco para alcançar. O mais próximo estava muito longe.

Dali até a chegada, mais nenhum susto. Ponta de Bombas no final da Baía de Mariscal, um bordo até a bóia no meio da praia, uma empopada até a CR. Mas ainda tem a volta com mais um monte de casos.

domingo, agosto 06, 2006

Finalmente...

Na quarta-feira passada, dia 2, logo depois do meio dia, finalmente meus brandais foram acertados. O Gusmão chegou por aqui, mandou soltar tudo e começou o trabalho que levou quase uma hora. Começou apertando todos - os superiores, intermediários e os de força - com as mãos até não dar mais. Em seguida se concentrou nos superiores dando quatro voltas em cada um dos lados, olhou, mediu as distâncias, deu mais umas voltas e foi para os intermediários. Fez a mesma coisa, mediu de novo, olhou, pediu pro Tarcísio olhar o perfil do mastro, deu mais uns apertos. Depois os de força, a mesma coisa. Sempre um pouco de cada lado até se dar por satisfeito.

Mastro regulado pelas mãos do Gusmão

Em seguida, uma banda pela baía sul. Camba pra cá, aperta o sotavento. Camba pra lá, aperta o sotavento. Camba de novo, aperta mais uma vez, camba de novo, aperta, olha, aperta, olha.

Acho que tô pronto para enfrentar a minha primeira regata...